Numa época na qual o cinema parecia tão desesperadoramente inócuo, a densidade dramática de O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs, 91)
( Fig.100 ) conseguiu resgatar o horror com seriedade, levando o gênero a uma platéia mais ampla. Abordando o tema do serial killer com uma profundidade que não se via desde Psicose, o filme ainda faturou os cinco principais Oscars: melhor filme, diretor (para Jonathan Demme), Ator (Anthony Hopkins, como o canibal Hannibal Lecter), atriz (Jodie Foster, como a agente do FBI) e roteiro - uma surpresa redobrada se levarmos em conta o conservadorismo exagerado da Academia de Hollywood.
Os vampiros clássicos haviam desaparecido das telas desde Drácula (Dracula, 79) ( Fig.101 ) , com o espalhafatoso Frank Langella no papel título, mas o novo Drácula de Bram Stoker ( Fig.102 ) (Bram Stoker's Dracula, 92, numa exuberante versão de Francis Ford Coppola com Gary Oldman, Winona Ryder e Anthony Hopkins) e seus fascinantes efeitos visuais praticamente artesanais, não só injetou novo sangue à mitologia dos vampiros como também motivou outras refilmagens de temas
clássicos.
Coppola havia estreado na direção em 1963 com
Demência 13 (Dementia 13) ( Fig.103 ) , e desde então
não se aventurava pelo gênero. Mas sua nova obra-prima abriu espaço para Entrevista com o Vampiro (Interview with the Vampire, 94) ( Fig.104 ) , bela adaptação do livro de Anne Rice, com Tom Cruise e Brad Pitt, e a paródia
Drácula - Morto Mas Feliz (Dracula: Dead and Loving it, 95), entre tantos outros títulos sobre o tema.
Desta vez com Coppola apenas cuidando da produção, Kenneth Branagh fez o que pôde para recontar o Frankenstein de Mary Shelley (Mary Shelley's Frankenstein, 94) ( Fig.105 ) , incluindo uma inventiva
sequência da criação do monstro usando enguias
elétricas vivas (a confecção do monstro não é descrita no livro, e Hollywood sempre teve que imaginar como ele surgiu!). Ainda que não supere o clássico de 1931 com Boris Karloff, o filme trouxe pela primeira vez um ator consagrado no papel de monstro, com o celebrado Robert De Niro esforçando-se para dar dignidade e credibilidade à criatura feita com pedaços de cadáveres. Alguns anos antes, o veteraníssimo Roger Corman havia retornado à direção após uma aposentadoria de vinte anos com Frankenstein - O Monstro das Trevas (Frankenstein Unbound, 90) ( Fig.106 ) , em outra abordagem diferenciada da obra de Mary Shelley.
Alguns poucos novos sustos foram criados nesta ├║ltima
década do milênio. O Corvo (The Crow, 94) saiu dos quadrinhos para encarnar em Brandon Lee (morto tragicamente durante as filmagens) e Vincent Perez na sequência, O Corvo - A Cidade dos Anjos (The Crow: City of Angels, 96). O Mistério de Candyman (Candyman, 92)
( Fig.107 ) e Candyman 2: A Vingança (Candyman: Farewell to the Flesh, 95) ( Fig.108 ) consagraram o talentoso e carismático Tony Todd - também o principal nome da
versão anos 90 de A Noite dos Mortos Vivos (Night of the Living Dead, 90) - como o primeiro astro negro de horror desde William Marshall, de Blácula - O Vampiro Negro (Blacula, 72) e Scream, Blacula, Scream! (73).
Por outro lado, algumas jóias do horror não receberam o devido reconhecimento, como As Criaturas Atrás das Paredes (People Under the Stairs, 91) ( Fig.109 ) , um perturbador conto de horror e loucura orquestrado por Wes Craven.
Os sanguinários dinossauros digitais de Steven Spielberg em O Mundo Perdido - Jurassic Park (The Lost World - Jurassic Park, 97) ( Fig.110 ) são apenas o mais recente capítulo no fascinante universo do horror. O cinema inicia seu segundo século de vida e ninguém é capaz de prever o que vem por aí - mas definitivamente este não foi o último grito de pavor nas telas.